My Great Web page

segunda-feira, 22 de junho de 2009

O TEMPO EM VÁRIAS DIMENSÕES

É bastante comum alegarmos que estamos sem tempo, e assim, desincumbir-se de responsabilidades e tarefas...

Porém, se prestarmos mais atenção, veremos que não é de tempo que parte da humanidade vem carecendo, mas sim, de liberdade.

A criança

É aquela para a qual o tempo não existe, apenas a eternidade do agora, do brincar, do comer, do dormir, do aconchego do lar e do colo da mãe.
Guia-se apenas por seus instintos e desejos. É o período mais criativo e (literalmente) mágico, pois um punhado de terra vira comida de "mentirinha". Intuição e Inspiração se combinam interiormente, ainda sem a intervenção dos adultos e suas negativas.
É a fase das descobertas e dos maravilhamentos, tudo é novo, tem luz e brilho, tem encanto.
Fitar as árvores é lindo, especialmente se estiver cheia de pássaros. Observar os gatos brincando entre si é divertido e é capaz de ficar horas envolvido nessa tarefa divertida.
Cada aniversário é feliz e muito tempo se passa entre um e outro.
Os instrumentos mágicos dessa etapa da vida são a bola e a boneca.

Houve um tempo em que os homens e os seres espirituais já estiveram mais próximos. A principal dimensão nesse tempo era espacial. Havia muitos lugares sagrados ou de poder, em que facilmente se poderia entrar em comunhão com os deuses. Era preciso festejar uma boa colheita ou caçada, a chegada da primavera ou ápice do inverno, ocasião para reunir a comunidade e também para refletir sobre o acontecimento. A relação com os planos divinos era mais simples e direta e os intermediários espirituais representados pelos xamãs dedicavam-se mais a curar do que a garantir um lugar no Paraíso para algum privilegiado.
E, por muitos e muitos séculos, não havia a noção de "inferno"....


O jovem

Nesta fase da vida, começam as obrigações e os deveres. E na atual humanidade, começa também a competição por um lugar ao sol no mercado de trabalho. São precisos boas notas, bons índices. Preferencialmente, freqüentar as melhores escolas...
Muito tempo é gasto pelos pais ou responsáveis para que sua prole possa um dia obter destaque na sociedade. Na mesma medida em que principia uma espécie de lavagem cerebral, a partir da alfabetização, termina também a inspiração e o mundo do faz de conta. Não há mais tempo para brincar; o lazer e a diversão agora têm dia e horas certas, programadas.
O relógio passa a governar todas as suas atividades, "agora é hora do banho..."
O maravilhamento é substituído pelo entendimento. A razão ocupa o lugar da intuição e da inspiração.
Esta é uma longa etapa na vida do ser humano e dura de 20 a 25 anos, ou seja, cerca de 1/3 de sua vida...
A humanidade não precisa mais de deuses nem de espaços sagrados. A admiração e o culto da beleza, como fizeram os gregos e os celtas, cede lugar para o racionalismo científico. A Terra não é mais o centro do universo e assim, Kepler e Newton conseguiram entender as órbitas dos planetas, calculadas desde há muito pelos caldeus, chineses e hindus... Surge a radiestesia, largamente conhecida e empregada pelos druidas... Mas também surgiu a máquina a vapor, a turbina, o tear, a imprensa...
Os sacerdotes, magos e sábios da antiguidade se tornam cientistas e especialistas da atualidade.
E o tempo começa a passar mais depressa, há mais coisas a fazer e existe uma preocupação com o futuro, seja ele qual for. A distância entre os aniversários é menor.

Graças aos hormônios que estimulam a diferenciação entre os sexos, os instrumentos de poder dessa fase são bem diversos e não se encontram mais associados ao prazer. Para ambos os sexos, existe a ânsia de aprender. Geralmente (e não necessariamente), meninos brincam de carrinho, uma invenção mecânica que reafirmará o seu poder por todos os anos vindouros. No entanto, a menina já tende a imitar uma profissão, geralmente a de um dos pais, dando continuidade à brincadeira de bonecas, só que de uma maneira mais amadurecida.
Assim podemos dizer que o instrumento de poder do jovem será um veículo de transporte e, da jovem, continua sendo uma boneca mais elaborada.
O adulto
Sem graça, não se diverte, tem como único objetivo ganhar dinheiro para poder realizar o que mundo ao seu redor pré-determina que seja melhor ou mais importante. Criatividade zero, embora seja considerado um talento necessário. Mal têm tempo para brincar, apenas competição. O tempo passa muito depressa, embora o dia continue tendo 24 horas e cada hora, 60 minutos.
A questão aqui é a simultaneidade: muitas tarefas e informações são realizadas em curtos intervalos de tempo. É caso de almoçar e ligar para a família, sem prestar atenção nas palavras dos filhos ou no sabor do alimento que está sendo ingerido (ou engolido). Como existem muitas preocupações e muitas pessoas com as quais se preocupar, o tempo se alarga, invade o espaço e o tempo dos outros.
Se antes cada um tinha o seu próprio ritmo e tempo, agora todos disputam um único (embora imenso) tempo "unificado".
Hoje, a humanidade tem muito tempo à sua disposição, empregado em atividades "produtivas" (gerar recursos financeiros).
E como todos se intrometem nas vidas de um e de outro, para criticar e não mais para festejar, perdeu-se também a noção de espaço ou local sagrado. Os aniversários parecem suceder-se uns aos outros rapidamente: o final encontra-se cada vez mais próximo...
A tecnologia proporciona uma revolução indescritível por sua velocidade e mutabilidade. Suas possibilidades são tão infinitas que não podem mais ser alcançadas por uma única mente. Computadores são instrumentos poderosos para cumprir tarefas mais exigentes que se encontram além das capacidades humanas, permitindo ganho de tempo.
Com a revolução da tecnologia, chegou também a revolução das comunicações. Em poucos segundo, temos nas telas de nossa TV as notícias de um seqüestro acontecendo naquele instante num vilarejo de Duchambe...
E, não há instrumento de poder, uma vez que o ser humano perdeu absolutamente a sua conexão com tudo o que é sagrado.

Conclusão

Para os nossos ancestrais, que baseavam a sua vida no caráter sagrado da existência, a passagem do tempo era reverenciada e cada ciclo, devidamente festejado. A relação com o divino era vertical, embora tempo e espaço fossem sentidos como uma única dimensão. É a origem da divindade onipresente, anterior ao "início dos tempos".
Conquanto o tempo fosse "medido" e cultuado, não era dominado ("tempo é dinheiro").

Em plena era tecnológica, a relação com o tempo é horizontal. O tempo assume uma forma linear para registrar os eventos; porém, esses ocorrem com uma simultaneidade acima das capacidades de assimilação da mente humana, ocasionando todos os tipos de stress. E, à medida que busca ganhar o controle sobre o tempo, por meio das máquinas e instrumentos de automação, perde o controle sobre a sua própria existência, permanecendo cada vez mais ligado ao tempo que, de fato, não tem existência concreta.
Eis aqui o grande paradoxo, pois quanto mais tempo ganha por meio de suas invenções, menos tempo tem para a inspiração (AWEN) e torna-se ele mesmo mais uma peça na engrenagem funcional por ele criada, menos humano, mais robotizado, limitado, superficial.

A natureza humana tem necessidade de celebrar. Celebrar é a oportunidade de fortalecer laços familiares e comunitários. Nas festas, dança-se e canta-se, contam-se histórias e feitos, o AWEN estimulando a Arte. E a Arte nos tornando partícipes do processo de criação.
Hoje, é a máquina reproduzindo-se a si mesma. A xerox e a pirataria nada mais são do que cópias baratas de um original e, por isso mesmo, são um reflexo de nossos dias. São uma imitação sem AWEN, apenas para ganhar tempo... ou dinheiro...
Mas são um reflexo de nosso tempo sem inspiração e com muito tempo...

Henrique Guilherme Wiederspahn, ESQUILO FALANTE




0 comentários: